Primeiro caminhão elétrico da Scania vendido no Brasil — Foto: Divulgação/Scania
Maior mercado automotivo da América Latina — e sexto do mundo —, o Brasil pode se tornar um hub de produção e exportação de veículos eletrificados na região, movimentando R$ 200 bilhões em negócios ao ano a partir de 2030. A transição para os veículos de baixo carbono pode criar 400 mil “empregos verdes” até 2050, em atividades como produção de baterias, infraestrutura de recarga e criação de softwares para carros cada vez mais tecnológicos.
Os desafios também são relevantes: alcançar produção local em escala para reduzir preços de veículos elétricos, oferecer uma rede robusta de pontos de recarga, fabricar baterias mais potentes. E tudo isso requer alto investimento.
As previsões otimistas e suas barreiras constam de dois novos estudos, do Instituto Acende Brasil, centro de estudos do setor elétrico, e do movimento Gigantes Elétricos, coalizão que reúne organizações internacionais na tentativa de comprometer a indústria automotiva com a chamada transição energética justa.
Se, em outras nações, a geração de energia elétrica é uma vilã ambiental, no Brasil responde por pouco mais de 1% das emissões de CO2. O país tem mais de 80% de sua matriz elétrica limpa e excedente de geração de fontes como eólica e solar.
Num país que transporta 71% das cargas por rodovias, abre-se uma oportunidade imensa de descarbonização dos transportes —responsável por 14% das emissões no Brasil — com a troca de motores a diesel e gasolina por baterias elétricas nas estradas, dizem os estudos.
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— O Brasil tem vantagens competitivas significativas, como matriz elétrica limpa e capacidade de produzir biocombustíveis (etanol e biodiesel), que podem complementar a eletrificação, especialmente onde a transição é desafiadora, como no transporte rodoviário de cargas para longas distâncias — diz Alexandre Uhlig, diretor de Sustentabilidade do Acende Brasil.
Só a infraestrutura de recarga pode girar R$ 14 bilhões anuais no Brasil até 2030, diz o instituto. Já o aumento no consumo de eletricidade para carregar veículos, estimado em 3% da demanda nacional em 2040 pela consultoria McKinsey, vai beneficiar companhias de distribuição de eletricidade com um adicional de receitas de R$ 10 bilhões por ano. O levantamento do Acende Brasil conclui que esse novo ecossistema de negócios da eletrificação pode movimentar R$ 200 bilhões por ano, num cálculo da consultoria Mirow & Co.
Parte dos investimentos está em curso. Montadoras instaladas no Brasil, incluindo chinesas que estão começando sua produção local de elétricos, aportam R$ 140 bilhões até 2030 aqui. Só para caminhões são R$ 8,5 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O ramo de ônibus também é promissor.
Autonomia desafia
A Scania, por exemplo, investe R$ 2 bilhões entre 2025 e 2028 para modernizar seu parque fabril no Brasil para a eletrificação. Em agosto, iniciou a produção de ônibus elétricos em sua unidade paulista. A Scania já tem caminhões a gás e buscou parceiros para criar corredores verdes no país, onde os motoristas podem abastecê-los em longas distâncias, favorecendo que alcancem regiões onde o agronegócio é forte, como o Centro-Oeste.
— Nossa próxima jornada é ter corredores de abastecimento para elétricos. A produção de ônibus elétricos já começou e, em dois ou três anos, deve ficar mais claro quando vamos produzir caminhões eletrificados aqui — diz Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções da Scania Brasil, que aponta a autonomia dos veículos como um dos principais desafios a serem superados.
No trabalho sobre vantagens do Brasil para liderar a eletrificação de caminhões, o Gigantes Elétricos observa que essa transição criaria um ambiente de requalificação profissional, com atração de talentos e fortalecimento de cadeias produtivas locais.
Com base em dados do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, na sigla em inglês), o movimento estima que os empregos no setor automotivo podem chegar a 800 mil até 2050, o dobro dos atuais 400 mil (100 mil em montadoras e 300 mil em autopeças).
— Os empregos no setor dos veículos de combustão não serão perdidos. Vão atender os biocombustíveis, biodiesel e etanol, que também são muito neutros (em emissões) na sua operação. Mas abre uma frente nova de oportunidades de trabalho nos elétricos — diz Clemente Gauer, diretor da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Inovadores (Abravei), parceiro da campanha Gigantes Elétricos.
O levantamento do Acende Brasil avalia que o uso de caminhões eletrificados ainda ajudará empresas a atingir suas metas de descarbonização, além de gerar novos negócios.
A JBS, maior processadora de carne do mundo, criou a No Carbon, empresa do grupo especializada na locação de caminhões 100% elétricos. Nos últimos três anos, a empresa multiplicou por nove sua frota de caminhões elétricos, saltando de 31 para 281veículos.
— São do tipo Veículo Urbano de Carga (VUC), ideais para a entrega de última milha. Equipados com baús frigoríficos, têm autonomia de até 150 km e atendem às operações de distribuição urbana das marcas Friboi e Seara (da JBS) em todas as regiões do Brasil — diz Armando Volpe, diretor comercial da No Carbon.
Confira a reportagem completa no portal d’O Globo.