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Governo quer retomar ferrovia abandonada de 600 KM e avalia até mesmo transporte de passageiros

Brasil pode recuperar sua malha ferroviária abandonada, e o Ceará é destaque. Indenizações bilionárias em disputa prometem movimentar o setor, com possibilidades de novos trens de passageiros
Publicado em 30/10/2024

O Brasil pode estar prestes a ver um renascimento de suas linhas férreas: uma linha abandonada de 600 km no Ceará pode voltar a operar com um diferencial que promete aquecer os debates e resgatar memórias: o transporte de passageiros.

Mas o projeto não se limita ao retorno de antigas linhas; ele envolve uma reestruturação estratégica que impactará diretamente a infraestrutura ferroviária no Nordeste.

Com isso, o Governo Federal e agências reguladoras avaliam possibilidades que envolvem até mesmo bilhões em indenizações para impulsionar a rede ferroviária nacional, enquanto discute-se quem terá o controle desses recursos.

Retomada da ferrovia: projeto estratégico e novas possibilidades

A movimentação em torno da revitalização das ferrovias abandonadas começou com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que realizaram estudos sobre a malha ferroviária nacional e a devolução de concessões abandonadas.

Segundo a ANTT, o pedido de devolução feito pela concessionária Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) pode abrir caminhos para o uso da estrutura no transporte de passageiros, uma alternativa que vem ganhando apoio no setor.

Para o Ceará, essas discussões não apenas representam uma reativação da ferrovia, mas também podem influenciar na integração da nova Transnordestina, em construção pela empresa TLSA.

Essa retomada traria um impacto significativo à infraestrutura local, fortalecendo conexões e criando oportunidades de desenvolvimento logístico no Estado.

Estudos e indenizações: bilhões em jogo

De acordo com o Ministério dos Transportes, um grupo de trabalho avalia opções para otimizar a infraestrutura devolvida pela FTL, incluindo sua reintegração à União.

Paralelamente, a empresa pública Infra S.A. realiza estudos para analisar o potencial de uso dessa malha, visando futuras concessões e novas operações ferroviárias.

A reativação da malha ferroviária brasileira, abandonada ou subutilizada, representa não só uma oportunidade de expansão para o setor de transportes, mas também um ganho financeiro.

O valor das indenizações de trechos abandonados pode alcançar até R$ 20 bilhões em todo o país. Esses recursos, no entanto, estão no centro de uma disputa entre os ministérios.

O Ministério dos Transportes defende que o valor seja reinvestido na infraestrutura ferroviária, enquanto a Fazenda considera destiná-lo ao ajuste fiscal do governo.

Linha de 600 km no Ceará: potencial para transporte de passageiros?

Uma das linhas em estudo para retomada é o trecho de 600 km que liga Fortaleza ao Crato, no Ceará.

Esta linha foi identificada pela ANTT como parte de um conjunto de ferrovias com potencial para reutilização, possibilitando o transporte de passageiros entre regiões estratégicas do Estado.

O uso para passageiros, porém, ainda depende da conclusão dos estudos conduzidos pela Infra S.A. e da definição de diretrizes do Ministério dos Transportes.

A destinação final das linhas devolvidas à União, segundo a ANTT, será uma decisão de política pública definida pelo Ministério dos Transportes, que estuda propostas de concessão para empresas interessadas.

O papel estratégico da Fiec e o hub do hidrogênio verde

Heitor Studart, coordenador da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), considera a reativação da malha ferroviária um passo essencial para a integração da economia cearense com outros polos do país.

Studart defende que a recuperação da antiga Transnordestina é crucial para conectar o Ceará a outras ferrovias, como a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia Centro-Atlântica, que se interligam com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste.

Segundo Studart, o plano para a ferrovia no Ceará está alinhado ao desenvolvimento do hub de hidrogênio verde no Estado, e as obras do setor ferroviário são uma parte fundamental dessa visão.

A Fiec entende que o futuro do setor industrial cearense depende de uma integração robusta e moderna com a malha nacional, pois o transporte ferroviário é uma via de baixo custo e grande capacidade de carga, essencial para o projeto de hidrogênio verde.

Além disso, Studart sugere que as concessões devolvidas poderiam dar lugar a short lines, linhas curtas de transporte de passageiros, que beneficiariam diretamente o transporte urbano e regional.

“A retomada do setor ferroviário é uma das prioridades para o desenvolvimento industrial e logístico do Ceará”, afirma Studart.

Disputa por indenizações e impacto para o futuro ferroviário

Hoje, aproximadamente 36% das ferrovias do Brasil estão inutilizadas ou sucateadas, representando um grande volume de infraestrutura com valor potencial de ressarcimento.

De acordo com a Folha de São Paulo, a média de indenização de cada quilômetro desativado varia entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões, mas os valores podem sofrer ajustes conforme a complexidade de cada trecho.

A Fiec e outras entidades pressionam para que os valores das indenizações sejam reinvestidos exclusivamente no setor ferroviário.

Essa destinação, segundo especialistas, é estratégica para o desenvolvimento da infraestrutura nacional e alinhamento com o projeto do hidrogênio verde.

Porém, a disputa entre os Ministérios dos Transportes e da Fazenda para decidir o destino desses recursos se intensifica, e o desfecho ainda é incerto.

Studart reforça que, se aplicados corretamente, os R$ 20 bilhões em indenizações poderiam ser fundamentais para reestruturar a logística nacional e impulsionar setores inovadores.

“É fundamental que esses recursos sejam revertidos para o setor ferroviário, pois só assim conseguiremos modernizar nossa malha e sustentar projetos como o hidrogênio verde”, afirma.

Futuro das ferrovias e o transporte de passageiros

A decisão final sobre o uso das ferrovias devolvidas para o transporte de passageiros representa um possível marco para a mobilidade urbana no país.

Embora o Ministério dos Transportes ainda precise definir as diretrizes, a reativação de trechos ferroviários para passageiros pode ser uma resposta às demandas por alternativas ao transporte rodoviário, principalmente em regiões urbanas e metropolitanas.

Para o Ceará, a retomada dos trilhos entre Fortaleza e Crato oferece uma oportunidade singular de resgatar o transporte ferroviário de passageiros e conectar as cidades de maneira eficiente e sustentável.

No entanto, para que essa visão se concretize, a sociedade, governos e empresas precisarão alinhar interesses e decisões, priorizando o crescimento sustentável e a inovação na infraestrutura.

Fonte: Click Petróleo e Gás