Conheça as 20 alterações nas leis de concessões e PPPs que vão alavancar os investimentos em infraestrutura

Conheça as 20 alterações nas leis de concessões e PPPs que vão alavancar os investimentos em infraestrutura

O PL (Projeto de Lei) 7.063/2017, que pretende alterar as leis de concessões e PPPs (Parcerias Público-Privadas), deverá ter sua tramitação acelerada, a pedido do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e tem definido 20 pontos principais de alterações pelo relator da proposta na Casa, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).

As informações foram dadas na última quinta-feira (27) pelo deputado Jardim durante o evento “A Hora de Discutir a Mudança no Marco das Concessões e PPPs”, promovido pelo SouzaOkawa Advogados, em São Paulo. Segundo Jardim, o presidente Motta pediu uma aceleração na tramitação do projeto, que foi apresentado como uma das prioridades econômicas do Ministério da Fazenda para este ano, e tinha expectativa de ser aprovado em abril.

“O presidente Hugo Motta me ligou ontem [quarta-feira, dia 26] e disse para acelerar. Eu disse a ele que era tudo o que eu queria ouvir. O país precisa, vive um momento delicado e precisamos dar sinais para retomada”, disse Jardim durante o evento.

Na ocasião, ele detalhou o histórico do projeto, originado numa comissão especial montada em 2019 que chegou a aprovar internamente uma proposta com uma profunda alteração, com mais de 250 artigos, unificando as duas leis (8.987/1995 e 11.079/2014).

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Ele explicou que essa proposta foi alterada, parte dela por exemplo já aprovada no projeto de lei que alterou as regras de debêntures de infraestrutura, e que agora a proposta foi enxugada para melhorar pontos específicos das duas legislações.

“A legislação de concessões completa 30 anos, a de PPPs, 20. Concessões bem, no meu entender. PPPs ainda andando de lado”, avaliou o relator, indicando que a ideia agora é fazer ajustes para melhorar as duas e não um projeto de grandes alterações.

Jardim detalhou no evento os 20 pontos que estão sendo tratados como prioridade para as alterações e, segundo ele, há acordo com o governo para 90% dessas mudanças. Os interlocutores do deputado, nomeados pelos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda), são o secretário do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), Marcus Cavalcanti, e o secretário de Reformas Econômicas, Marcos Pinto.

Práticas já em uso

A maior parte das propostas, segundo Arnaldo Jardim, trata de colocar em lei práticas que hoje já são adotadas por poderes concedentes e reguladores em todo o país, mas que geram dúvidas e insegurança jurídica em alguns contratos. Jardim citou especificamente as alterações de escopo de contratos em acordos consensuais que, segundo ele, precisam de uma lei específica para evitar problemas no futuro.

O deputado afirmou ainda que em março vai fazer uma série de encontros com representantes de associações, empresas e governos para colher sugestões sobre a proposta antes de apresentar o relatório final, que ele defende que seja o mais consensual possível, para que seja aprovado sem oposição, como foram outros projetos que ficaram sob sua relatoria, como a lei de debêntures.

“Vou me reunir intensamente, ouvir especialistas e vamos acelerar”, disse o deputado sobre a tramitação do projeto.

Os 20 pontos de mudança

Os 20 pontos listados pelo deputado que serão objeto de mudança são os seguintes:

1) Compartilhamento de risco: segundo o deputado, os eventos climáticos extremos e dificuldades com obtenção de seguros para todos os riscos indicam a necessidade de especificações nesse tema na nova lei.

2) Concessões multimodais ou em conjunto: hoje a lei determina que cada concessão tenha objeto próprio e a intenção é poder fazer projetos em conjunto, como ferrovias e portos, concessão de obras com projetos turísticos, por exemplo.

3) Reequilíbrio cautelar: o modelo de antecipar aos concessionários parte dos reajustes tarifários enquanto se discute detalhamentos necessários para se chegar a valores exatos já vem sendo usado por alguns poderes concedentes e será regulamentado na lei.

4) Compartilhamento de receitas acessórias: segundo Arnaldo Jardim, o modelo de repassar para modicidade tarifária os ganhos com receitas acessórias tem tirado o incentivo para o uso dessas receitas e, por isso, a lei vai especificar que é possível compartilhar os ganhos com os concessionários.

5) Prazos para decisões: Jardim lembrou que esse foi um dos pontos mais polêmicos quando a proposta inicial foi aprovada, especialmente com os órgãos de controle, mas que ele está mantido. De acordo com o deputado, serão dados prazos razoáveis, mas haverá prazo para decisões.

6) Ampliação de critérios de seleção: serão positivados novos modelos para critério de seleção em concessões e PPPs, como menor tempo para gerir um ativo, que, segundo o deputado, tiveram problemas de segurança jurídica quando foram experimentados.

7) Contratos por adesão: Jardim revelou que esse tema é a principal divergência com o governo, a permissão para que, após uma licitação feita, outros entes possam aderir ao edital com as mesmas condições. Após as discussões com o governo, segundo ele, será mantido um modelo com restrições de escopo, tipo de ente que pode aderir e limites. A tentativa é desburocratizar licitações mais simples, como concessões de iluminação pública.

8) Meios alternativos de prevenção e solução de conflito: ao longo dos anos, foram surgindo vários modelos de prevenção e solução de conflitos nos contratos de parceria que, segundo o deputado, não estão previstos em lei. A ideia é ter a previsão desses instrumentos na nova legislação.

9) Aporte em concessão comum: as concessões comuns são impedidas de receber aporte do poder público. Modelos de aporte na cabeça dessas concessões têm sido usados, mas para o deputado eles precisam de uma maior segurança jurídica com a previsão legal.

10) Prazos para análise de reequilíbrio: os prazos exagerados para que os concedentes avaliem os pedidos de reequilíbrio e executem esses pedidos não serão mais possíveis, pela nova lei.

11) Regras de transferência de concessão: a ideia com esse item é disciplinar o tema que já foi motivo de contestações que chegaram ao Supremo Tribunal Federal.

12) Acordo tripartite: o acordo tripartite é um modelo no qual os financiadores de uma concessão podem assumir o controle de uma concessão e seguir operando, evitando prejuízos que venham a ser causados pelo concessionário.

13) Prorrogação emergencial: concessões que cheguem ao fim de seu prazo sem que se tenha uma definição sobre o novo prestador de serviço terão regras específicas para essa finalidade.

14) Prazo para homologação de reajustes de tarifas: os reajustes de tarifas, especialmente em anos eleitorais, são a grande dor de cabeça das concessionárias. A ideia é impedir que o poder concedente possa não reajustar contratos que tenham previsão específica de reajuste inflacionário, por exemplo.

15) Extinção e relicitação: as regras de extinção contratual (caducidade) e relicitação de contratos mostraram-se pouco eficazes nas legislações existentes e a intenção é criar um novo modelo para essas duas formas de troca dos concessionários.

16) Vedação à recuperação judicial: a ideia é impedir que empresas detentoras de concessões usem esse instrumento nos casos em que se encontrem em dificuldades financeiras.

17) Prestação temporária de serviço: será disciplinado um instrumento para que o poder público possa escolher um prestador temporário para um serviço público enquanto são tomadas providências para uma parceria de longo prazo.

18) Permissão para interrupção de serviço em caso de inadimplência de PPP: os concessionários que recebem recursos de contraprestação nas PPPs para prestar um serviço são impedidos de parar a prestação ainda que não estejam recebendo o que está previsto em contrato. A ideia é permitir que eles possam parar a prestação, com regras previamente definidas.

19) Autorização de uso de fundos como garantia de PPP: há dúvidas jurídicas sobre se os governos subnacionais podem dar como contragarantia para o pagamento de contraprestações de PPPs os recursos dos fundos constitucionais que são repassados pela União. A ideia é disciplinar o tema na lei.

20) Ampliação dos limites da RCL (Receita Corrente Líquida) para PPP: a Lei de PPPs determina um percentual de 5% da RCL como limite para que os entes possam comprometer suas receitas com parcerias. A ideia é ampliar esse limite, mas o deputado Jardim não informou novos percentuais.

Participaram da mesa, mediada pela advogada Rosane Menezes, o presidente da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), André Isper, e o diretor-presidente da Melhores Rodovias do Brasil – ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), Marco Aurélio Barcelos.

Representantes do setor privado elogiaram a decisão de fazer mudanças pontuais e não uma grande alteração nas duas leis, que têm respectivamente 30 e 20 anos de existência.

E fizeram pedidos especialmente em relação a mudanças para melhorar a gestão dos contratos pelo setor privado, como foco em ter uma maior celeridade para licenciamentos, por exemplo, e sanções em casos de não aplicação da lei por parte dos agentes públicos.

Fonte: Agência Infra

Pedágio 100% autônomo começa a funcionar no Brasil; veja como funciona

Pedágios com pagamento sem interação humana, ao estilo das cancelas de shopping centers, já estão virando realidade no Brasil. Em diferentes regiões do país, há cada vez mais praças de pedágio tradicionais dando lugar ao sistema de autoatendimento. Em Pernambuco, por sua vez, já há estradas totalmente nesse esquema.

É o caso do sistema viário do Paiva, que engloba as rodovias estaduais PE-024 e PE-009 e outras vias secundárias, conectando a região metropolitana do Recife ao porto de Suape, em Cabo de Santo Agostinho (PE), e às praias do litoral sul pernambucano. Desde o ano passado, a concessionária Monte Rodovias optou pela tecnologia e o sucesso atraiu outros gestores viários para conhecê-la.

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Ao todo, há sete praças de pedágio no sistema viário do Paiva e, em todos, o atendimento é feito sem interação humana. É possível inserir o cartão na maquininha ou simplesmente utilizar o pagamento por aproximação, compatível com smartphones que têm Apple Pay, por exemplo. No caso de pagamento em dinheiro, a máquina ainda é capaz de fornecer troco. Uma vez pago, o motorista escolhe se quer o recibo do pedágio ou não.

A novidade acabou chegando às rodovias federais, com a primeira praça 100% automatizada estreando recentemente na BR-080, em Santa Rita do Novo Destino (GO). Segundo a Ecovias do Araguaia, cerca de 40 mil motoristas utilizaram essa modalidade no mês de janeiro, quando a tecnologia estreou. Dado o volume, é natural que haja problemas. Nesse caso, é possível pedir ajuda pela tela do totem e sempre haverá um funcionário à disposição no local, diz a concessionária.

Em outras praças de pedágios geridas pela Ecovias do Araguaia também há opção de usar as cabines autônomas. Nesses locais — assim como em pontos das rodovias Raposo Tavares e Castello Branco, em São Paulo —, a automatização é limitada: só há uma cabine automática em cada sentido, com prioridade para os veículos de passeio.

Confira a reportagem no Portal UOL.

Retomada da confiança entre agência e setor regulado mudou o setor de transporte, avalia diretor-geral da ANTT

Retomada da confiança entre agência e setor regulado mudou o setor de transporte, avalia diretor-geral da ANTT

“O setor regulado não confiava na agência. E a agência olhava o setor regulado sempre com desconfiança.” Essa é a descrição da situação que o engenheiro Rafael Vitale diagnosticou em 2021 ao chegar à diretoria-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) numa situação inusitada: “Em menos de 30 dias eu fui convidado, sabatinado e assumi o cargo”.

Quatro anos depois, ao fim do seu mandato, ele lembra que já na sabatina houve uma série de críticas duras à agência e cobranças para solucionar problemas que se arrastavam há décadas, como a paralisação de obras de concessões de rodovias e ferrovias e a briga pelo mercado de transporte rodoviário de passageiros.

E, pior, ele assumia sob a desconfiança do mercado e da própria agência por ser alguém que não tinha relação direta com o tema, nunca ter liderado uma instituição e ser um servidor pouco conhecido no setor de transporte terrestre. “Isso até causou um pouco de ansiedade”, reconhece.

Uma situação que indicava poucas chances de sucesso se reverteu ao longo dos anos no que vem sendo reconhecido por diferentes setores no governo e no mercado como uma transformação da agência. Vitale avalia que a ANTT deixou de “ser o patinho feio” para querer se transformar na melhor agência de regulação do país.

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“A gente tinha que fazer uma verdadeira mudança cultural da agência. Esse foi o principal diagnóstico”, disse Vitale em entrevista à Agência iNFRA, na semana passada, sobre sua passagem pela diretoria-geral.

A mudança cultural era necessária, segundo o diretor-geral, porque a agência tem quadros técnicos e estrutura adequada. Mas ele não via comprometimento no trabalho. “Tava meio sem alma, sabe? Um trabalho sem um propósito maior.”

O início do que é chamado de uma transformação da ANTT começa, segundo Vitale, com o resgate do orgulho de trabalhar na agência. E isso se torna visível com uma medida simbólica: vestir a camisa da agência.

Ele e os diretores passaram a usar com frequência o uniforme de fiscalização da ANTT em cerimônias, encontros e viagens. Aliada a uma intensa e planejada campanha de comunicação sobre a produção e os benefícios gerados pelas ações da agência, o modelo começou a resgatar a autoestima dos servidores.

“Tivemos que comprar mais camisas. Teve até que comprar camisa diferente para terceirizado, estagiário”, contou o diretor-geral.

A nova comunicação estava aliada a mudanças profundas na estrutura da agência, que Vitale disse que passou a ser organizada com uma lógica visando a uma presença maior nas pontas. E também maior autonomia para que as equipes pudessem “resolver problemas”.

“Eles se sentiram mais empoderados, encorajados de propor coisas diferentes. Sempre trouxe essa visão, um grande slogan, que é: o sucesso da concessão é o sucesso da agência e vice-versa”, contou Vitale.

A mudança cultural da agência ganhou um nome, o ProRev, que Vitale martelou como lema ao longo de sua jornada na agência, para traduzir o que ele classificou como as três revoluções que eram preciso para transformar o setor: comportamental, regulatória e tecnológica. Vitale conta que, entre os servidores da agência, quando algo é considerado muito positivo ou de qualidade, é chamado de ProRev.

Desconfiança do mercado e controladores

Se internamente, a confiança estava retomada, sobrava ainda os anos de desconfiança de outros órgãos da administração, especialmente o TCU (Tribunal de Contas da União), e do mercado regulado, que via as concessões com passivos não resolvidos por cinco ou até 10 anos.

Internamente, a percepção era de que concessionária “chora demais”, “não é transparente” e por isso os problemas não eram resolvidos. Vitale disse que foi necessário trabalhar para alterar a forma de tratar esse tema com os servidores.

“Eu dizia: ‘Gente, nós somos uma agência, a gente que dá o drive. Nós vamos dar a mão e sair andando. A concessionária que der a mão pra gente, a gente vai andando junto, porque é uma parceria’”, explicou o diretor-geral sobre a retomada da confiança entre os regulados.

Com o TCU, as reuniões passaram a ser semanais com a área técnica do órgão, como forma de tratar cada uma das centenas de passivos de cada contrato do setor. Isso foi fundamental para que o primeiro grande passivo da agência, o contrato de concessão da BR-163/MT, tivesse uma solução até então inédita: um acordo para praticamente fazer o contrato e passá-lo, sem caducidade ou disputa judicial, para uma outra empresa pública estadual.

Vitale lembra que a solução desse contrato em 2022 fez com que em menos de dois anos fossem implementados 140 quilômetros de duplicação numa das rodovias mais perigosas do país após quase uma década de obras paradas. É o início da SecexConsenso (Secretaria de Controle Externo de Solução Consensual e Prevenção de Conflitos) no tribunal de contas.

“Interessante é a construção”

O mesmo espírito de consenso também foi fundamental para outra solução, a retomada das obras da Ferrovia Transnordestina, que quando ele chegou à agência tinha uma proposta de declaração de caducidade.

“Caducidade não era o mais interessante para o povo. O interessante era a construção da ferrovia”, disse Vitale, lembrando que há perspectiva, neste ano ainda, após quase duas décadas de construção, de a ferrovia já transportar carga após a retomada das obras com mais velocidade em 2023.

Concluir o Contorno de Florianópolis, em Santa Catarina, uma obra que também ficou quase uma década entre idas e vindas, e retirar a concessão da ViaBahia, na Bahia, também está na lista de feitos que Vitale diz que resolveu e que foram pedidos públicos feitos em sua sabatina.

Mas a pacificação do transporte rodoviário de passageiros vai ter que ficar para o sucessor. “Nós trouxemos um mínimo de coerência para o setor”, defende Vitale sobre as mudanças regulatórias que a agência promoveu em sua gestão, mas que estão parcialmente barradas na Justiça e enfrentam críticas dos novos entrantes do mercado.

“Buscamos evitar judicialização, trazer previsibilidade, estabilidade para o setor, para que as empresas possam concorrer, de maneira isonômica. E, aí sim, prestar um bom serviço e ganhar market share dentro de um ambiente regulatório estável”, defendeu o diretor-geral.

“Agência confiável”

Já no setor de concessão de rodovias, a transformação na agência, na visão de Vitale, fez com que fosse possível florescer um mercado diverso, com players de diferentes setores e países, buscando estar presentes nos projetos que formam o que é considerada a maior carteira de concessões do setor no mundo.

“O crédito por voltar a ter competição, tração de capital externo, operadores externos que vivemos a partir de 2024, eu credito não apenas à melhoria da regulação do contrato e dos estudos, mas também à percepção de que a ANTT é uma agência confiável”, disse Vitale.

Fonte: Agência Infra