Praticamente 40% do crédito aprovado no primeiro trimestre pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) foi direcionado a projetos de infraestrutura. A alta participação na carteira do início do ano tem por trás um crescimento expressivo no volume de empréstimos avalizados ao setor nos primeiros três meses do ano, quando avançou 100% ante o mesmo período de 2024.
Foram aprovadas operações de R$ 13,2 bilhões no trimestre, contra R$ 6,6 bilhões nos primeiros três meses de 2024 e R$ 3,3 bilhões em janeiro, fevereiro e março de 2023 – nesta base de comparação, a alta é de 295%.
Os números foram destacados em entrevista a jornalistas sobre os resultados do banco de desenvolvimento, realizada na última quinta-feira (15). Embora os novos empréstimos ao setor de infraestrutura tenham sido relevantes, o BNDES já percebeu um arrefecimento geral nas consultas à instituição. Houve uma queda de 13% nesse indicador nos primeiros três meses do ano ante o primeiro trimestre de 2024, recuo inserido no contexto dos juros altos.
Para o diretor de Planejamento e Relações Institucionais do banco, Nelson Barbosa, o movimento é um efeito defasado da política monetária, cujo ciclo de alta tende a afetar a demanda de crédito especialmente em operações mais sensíveis aos juros, como de capital de giro e compra de máquinas e equipamentos.
Como mostrou a Agência iNFRA, os juros em patamares elevados por um longo período, hoje em 14,75% ao ano, aliados a uma inflação de serviços ainda alta, apontam para um cenário de paralisação de obras de infraestrutura já se aproximando no país.
Barbosa avaliou que o panorama pode promover uma desaceleração no banco, mas argumentou que o BNDES não pode perder o foco em sua diretriz de médio e longo prazo. “Então pode ter alguma desaceleração, especialmente em operações mais sensíveis ao juro, de capital de giro, e máquinas e equipamentos, mas isso faz parte do dia a dia da economia”, disse o diretor.
Do volume financeiro de aprovações de crédito no primeiro trimestre, 75,4% foram praticadas com taxas de mercado, contra 21,6% que contaram com algum incentivo (majoritário no Plano Safra), além de 3% com recursos não reembolsáveis. “O BNDES é mais afetado pela política monetária do que afeta a política monetária”, concluiu Barbosa.
Rodovia e metrô
As aprovações de crédito no banco cresceram em todos os setores no primeiro trimestre, mas o principal avanço, de 100%, foi da infraestrutura. A alta expressiva foi carregada especialmente pelo financiamento de R$ 7,3 bilhões à concessionária EcoRio Minas, para investimentos na BR-493/RJ, BR-465/RJ e BR-116/RJ/MG, e o financiamento de R$ 2,4 bilhões ao Metrô de São Paulo, para expansão da Linha 2-Verde.
Em seguida, os maiores crescimentos nas aprovações foram registrados nos setores de comércio e serviços, com R$ 5,3 bilhões (alta de 20%), de agropecuária, com R$ 7,4 bilhões (avanço de 9%), e indústria, também com R$ 7,4 bilhões (aumento de 7%). No geral, o volume de R$ 33,3 bilhões avalizado no primeiro trimestre representou um avanço de 35% em relação ao primeiro trimestre de 2024 e de 158% sobre 2022.
Linha para aéreas
Durante a entrevista, o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior, José Luis Gordon, respondeu ainda que o governo está fechando neste momento quais serão as taxas de juros da linha de financiamento às companhias aéreas com recursos do FNAC (Fundo Nacional da Aviação Civil). Segundo ele, “em breve” o tema será levado para aprovação do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Fonte: Agência Infra